Morte e vida


Quando a enfermidade chega, inexorável, e dá o recado de que a
recuperação não se dará no corpo físico, ocorrem diferentes reações
por parte dos doentes.

Há os que se revoltam e passam a brigar com a situação. Exasperam-se,
acreditam-se injustiçados.

E se perguntam: Por que comigo?

Outros costumam iniciar uma barganha com a Divindade.

Assim, fazem promessas de realizar boas obras, atender a criaturas, se
alcançarem a cura da enfermidade.

Há os que negam a doença, ao ponto de não aceitarem o atendimento
médico, não se submetendo a tratamentos.

É como se não fosse com eles a questão.

Existem, enfim, aqueles que aceitam o fato. Esses buscam usufruir o
melhor da vida que ainda lhes resta e se preparam para realizar o
retorno ao mundo de onde todos viemos.

Um professor de agronomia, que recebeu o diagnóstico de tumor no
esôfago, era um desses exemplares.

Nos últimos dias, até a água que bebia, ele regurgitava. Naquela
manhã, em que o médico chegou para vê-lo, ele estava meio embriagado
pela quinta dose de morfina.

A noite havia sido muito longa e dolorosa. Somente em torno das cinco
da manhã, ele conseguira dormir um pouco.

O médico chegou para examiná-lo, em sua casa. E recordou-se que toda
vez que vinha para vê-lo, o velho professor não cansava de elogiar as
virtudes da mangueira frondosa que ele plantara em seu quintal.

Nada mais, nada menos do que quarenta anos antes.

Mas, nessa manhã, o encontrou dormindo, no quarto em penumbra.

Estava enrolado em dois cobertores. Abriu os olhos e tentou sorrir. A
dor era evidente.

O médico o examinou e lhe disse que seria melhor levá-lo ao hospital.

Pela última vez, doutor? Perguntou ele.

Honestamente, não sei. Respondeu o médico.

E tomou do telefone para chamar a ambulância. Foi interrompido com delicadeza:

Doutor, não chame a ambulância. Minha mulher me leva de carro.

Fechado na ambulância, não enxergo nada. Tem sol, quero ver as
árvores, as pessoas bonitas na rua, as flores.

Era um amante da natureza, da vida, do mundo. Mesmo as dores que o
martirizavam não o deixavam esquecer das maravilhas que se habituara a
contemplar.

*   *   *

Há muitas coisas que encantam o olhar: montanhas ao longe, a curva
serpenteante da serra, o verde renovado da paisagem que se veste de
primavera.

Há belezas na água que corre pela fresta da rocha, na abundância das
correntezas e nas vertentes que se lançam das alturas.

Deus é tão maravilhoso que coloca beleza até na destruição. E o fogo
dança e crepita na lareira, cheio de cores e de formas.

Em tudo há poesia, encantamento e beleza, para quem tem olhos de ver.

Para esses, um raio de sol é um veio de ouro, a chuva que cai é prata
líquida. A brisa, é uma sinfonia.

E o arco-íris? Esse é a obra prima resultante do matrimônio da chuva
com a luz, sob o olhar complacente de Deus.

Pense nisso e torne-se um grande admirador da obra da Criação que todo
dia se oferece a você, em luz, cor e movimento.

Redação do Momento Espírita, com base na
Introdução do livro Por um fio, de
Drauzio Varella, ed. Companhia das Letras.
Em 17.11.2008.




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