Lacerda era um homem que vivia apressado. Todas as manhãs tomava o café em pé, por se considerar em atraso. O tempo é precioso, dizia.
E corria. Jogava as coisas dentro da sua pasta, deixava o nó da gravata torto, jogava o paletó no ombro. Tudo porque não tinha tempo para perder.
Vivia apressado. Dizia que o tempo que passa nunca mais seria recuperado.
Por vezes, criava transtornos para a família. Programavam um passeio e era o caos. Ele tinha pressa e exigia que as crianças decidissem rapidamente o que vestiriam, o que levariam.
Mas quem não decidia aonde eles iriam passear era ele. Não tinha tempo para pensar. O negócio era apanhar o carro e sair, sem perda de tempo. No caminho, enquanto dirigia, decidia.
Naturalmente, era um transtorno atrás do outro. A esposa ficava entristecida. As crianças sem saber bem o que fazer.
Se levavam roupa para a piscina, ele decidia dar um passeio no parque. Se levavam bicicletas para andar no parque, ele acabava por parar na piscina do clube.
Certo dia, como sempre, saiu de casa a correr. Tanto, que quase pisoteou um senhor de idade madura que passeava tranquilo pela calçada.
Fez sinal ao ônibus que vinha, abriu a pasta apressado, pegou as moedas para pagar o cobrador e entrou correndo no coletivo.
O que ele não percebera é que, ao abrir a pasta, vários papéis haviam caído na calçada.
O homem que passeava viu o pacote e o apanhou. Logo verificou que se tratava de duplicatas a serem pagas naquele dia. Todas traziam os cheques correspondentes.
O homem pensou: Os títulos devem ser pagos hoje, sob pena de multa ou talvez protesto. Os cheques estão aqui. Eu tenho tempo.
E se dirigiu ao banco. Postou-se calmamente na fila e efetuou o pagamento.
Estava quase a sair, quando Lacerda entrou correndo na agência bancária.
Sem mesmo se sentar, foi falando ao gerente, em voz alterada:
Almeida, preciso da sua ajuda. Quero cancelar cheques que perdi.
O homem o reconheceu. Aproximou-se e falou:
Não precisa, moço. Eu encontrei os cheques que o senhor perdeu e as duplicatas. Já fiz os pagamentos. Aqui estão os comprovantes.
Lacerda agradeceu, aliviado. Por um minuto se sentou. Depois saiu correndo outra vez, para recobrar o tempo perdido...
* * *
Tempo é verdadeiramente um tesouro e deve ser muito bem aproveitado.
Mas a pressa nem sempre indica um aproveitamento do tempo.
Por vezes, se faz necessário repetir tarefas por terem sido mal feitas... Por pressa.
Aproveitar o tempo é saber administrá-lo, de forma a que todas as tarefas, por questão de prioridade, sejam executadas de forma correta e devida.
Aproveitar o tempo é saber dividir as horas para o trabalho, o descanso, o lazer, o estar com a família.
Aproveitar o tempo é saber viver as horas com equilíbrio.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Uma lição de vida, da Revista Espírita, ano XI, nº 42.
Em 14.03.2011.
Em 14.03.2011.