Madrasta real




Quase sempre, quando se fala em madrasta, a conotação é pejorativa.

Associa-se a palavra a pessoa maldosa, má.

No entanto, madrastas são, por vezes, anjos que Deus envia para
plenificarem de amor a vida dos órfãos.

Quando a Imperatriz Dona Amélia precisou acompanhar o esposo para
Portugal, aqui deixando o menino Pedro, com apenas seis anos, escreveu
uma carta de despedida, deixando registrado o seu mais profundo afeto.

Nela demonstra o amor que tinha pelo filho que não gerara:

Meu filho do coração e meu Imperador.

Adeus, menino querido, delícias de minha alma, alegria de meus olhos,
filho que meu coração tinha adotado! Adeus para sempre!

Quanto és formoso nesse teu repouso! Meus olhos chorosos não se
puderam furtar de te contemplar.

És o espetáculo mais tocante que a Terra pode oferecer! Quanta
grandeza e quanta fraqueza a humanidade encerra, representadas por ti,
criança idolatrada: uma coroa, um trono e um berço.

Ah, querido menino, se eu fosse tua verdadeira mãe, se meu ventre te
tivesse concebido, nenhuma força te arrancaria de meus braços!

Prostrada aos pés daqueles que abandonaram meu esposo, eu lhes diria
entre lágrimas:

"Não sou mais Imperatriz, e sim a mãe amantíssima... Permiti que vigie
o nosso tesouro, esta criança, que é meu filho e vosso Imperador.

Vós o quereis seguro e bem tratado, e quem o haveria de guardar e
cuidar com maior devoção senão eu, sua mãe? Se não posso ficar a
título de mãe, ficarei como sua criada ou escrava para o servir e
acalentar.

Mas tu, anjo de inocência e de formosura, não me pertences senão pelo
amor que dediquei a teu augusto pai. Apenas sou tua madrasta, embora
te queira como se fosses o sangue do meu sangue.

Um dever sagrado me obriga a acompanhar o ex-Imperador no seu exílio,
através dos mares, em terras estranhas...

Adeus, pois, para sempre!"

Mães brasileiras, vós que sois meigas e carinhosas para com vossos
filhinhos, supri minhas vezes: adotai o órfão coroado. Dai-lhe, todas
vós um lugar na vossa família e no vosso coração.

Se a maldade e a traição lhe prepararem ciladas, ensinai, com voz
terna, as palavras de misericórdia que consolam o infortúnio; as
palavras de patriotismo que exaltam as almas generosas, e de vez em
quando sussurrai aos seus ouvidos o nome de sua mãe de adoção.

Mães brasileiras, eu vos confio este preciosíssimo penhor da
felicidade de vosso país, de vosso povo. Eu vo-lo entrego. Agora sinto
minhas lágrimas correrem com menor amargura.

Dorme, criança querida, enquanto nós, teu pai e tua mãe de adoção,
partimos para o exílio, sem esperança de nunca mais te vermos... senão
em sonhos.

Brasileiros! Eu vos conjuro que o não acordeis antes que me retire. A
sua boquinha, molhada pelo meu pranto, ri-se à semelhança do botão de
rosa com o orvalho matutino.

Ele se ri, e o pai e a mãe o abandonam para sempre...

Adeus, órfão-Imperador, vítima de tua grandeza antes que a saibas conhecer.

Adeus... Toma um beijo... Ainda outro... Mais um último.

Adeus para sempre. Amélia.

*  *  *

Poderá alguém, em sã consciência, afirmar que o amor dessa mulher não
foi de verdadeira mãe?



Redação do Momento Espírita, com base em dados colhidos no livro
História do Brasil, v. II, Bloch editores.

Em 18.06.2011.






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