Miséria


O garoto levantou cedo. Naquele dia, junto com os demais colegas, eles
iriam conhecer uma favela.

Meninos ricos, estudando em um colégio maravilhoso, receberam a
proposta do professor de sociologia para conhecer as diferenças
sociais.

O garoto nem podia imaginar o que era uma favela. É claro que ele já
havia visto meninos de rua, que lhe haviam dito serem filhos de
ninguém. Mas uma favela, ele jamais vira.

Todos foram aconselhados a vestir roupas mais simples, a fim de não
afrontar a miséria que visitariam.

Logo que o ônibus foi se aproximando do local, Pedrinho pôde perceber
porque aquele local era conhecido na cidade como um flagelo, uma
desgraça muito grande que atinge muita gente ao mesmo tempo.

Não havia estrada asfaltada e, como chovera na noite anterior, a rua
era um lamaçal enorme que, com dificuldade, o ônibus ia vencendo.

Não havia jardins, nem postes, calçadas, vitrinas. Nem caminhões de
limpeza urbana. O lixo se amontoava por toda parte.

Quando chegaram enfim, à entrada da favela, o que viu foram caminhos
estreitos, lamacentos, malcheirosos, insinuando-se por entre tábuas
apodrecidas, juntadas de qualquer jeito.

As tábuas pareciam formar casebres, mas tão esburacados que era
difícil acreditar que se pudessem manter em pé. As portas eram
remendadas com papelão ou velhos pedaços de lata.

Pedrinho lembrou de sua casa enorme, em que cada um tinha seu próprio
quarto, com banheiro individual, uma sala de jogos, uma para
televisão, a sala de visitas, de jantar. Tantos cômodos.

E ali, as pessoas se amontoavam nos barracos onde sempre vivia mais
gente do que podiam conter.

Vivendo tão apertados uns com os outros, deveriam se sentir muito mal,
ele pensou. E infelizes.

Com certeza, aquela cidade repelente envergonhava a cidade limpa, de
cimento e tijolos, varrida todas as manhãs e bem iluminada todas as
noites.

Pedrinho viu um homem batendo na mulher e uma criança chorando, assustada.

Descobriu que a miséria torna os homens ruins. E também propiciava o
roubo, que se apoderava das carteiras dos outros. O vício, sempre à
espreita de qualquer coisa desonesta. O crime, sempre de revólver na
mão.

Pedrinho concluiu que, para acabar com aquilo tudo, era necessário amor.

Só o amor poderia chegar ali e oferecer trabalho. Com trabalho, as
pessoas conseguem dinheiro. O dinheiro permite comprar coisas e
aquelas crianças teriam colchão para dormir e cobertas para as noites
frias.

Não passariam fome porque haveria pão e leite sobre as mesas. Assim,
elas não precisariam mais revirar o lixo, procurando restos de comida.

Só o amor poderia chegar ali e orientar as pessoas a melhor construir
suas casas, ofertando madeira de melhor qualidade. E as criaturas
poderiam se acomodar melhor, não como coelhos dentro de uma toca.

Só o amor saberia transformar a lama em jardim, os caminhos estreitos
em ruas bem alinhadas, com calçadas de pedra.

Só o amor lembraria de construir uma escola, uma creche para abrigar
todas as crianças que ali viviam. Com as crianças na escola e na
creche, suas mães também poderiam procurar trabalho, que significaria
melhores condições para a família.

Só o amor poderia se lembrar que todos somos filhos de Deus e
merecemos viver com dignidade.

Pensemos nisso.



Redação do Momento Espírita, com base no cap. 10 do livro O
menino do dedo verde, de Maurice Druon, ed. José Olympio.
Em  31.05.2012.




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